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Gustavo Aragoni: a entrega à experiência

"Não se pode criar experiência. É preciso passar por ela" Albert Camus

Última referência estável da modernidade, o corpo é visto como o lugar do ser, da razão e da consciência – torna-se a baliza para a formação da identidade e, simultaneamente, da subjetividade. Sob essa perspectiva, o ser racional é dono de seu pensamento e ação. Porém, o corpo, como instrumento e suporte dos trabalhos de Gustavo Aragoni (Osasco, 1975), traz a intuição, o inesperado e o conceito de experiência sob as bases do tempo contemporâneo.

 

Dedicado à pesquisa em filosofia contemporânea, desenho e instalação, Aragoni estuda pintura e desenho com Dudi Maia Rosa e ilustração com Fernando Vilela, em 2013. No ano seguinte, frequenta o curso de desenho de animação no Centro Universitário Belas-Artes. Atualmente participa do grupo de acompanhamento do Hermes Artes Visuais, com orientação dos artistas Nino Cais e Carla Chaim. Nesse percurso investigativo, o artista tem trilhado caminhos originados pelo figurativo e sustentados pelo desenho. Porém, suas últimas criações passam pela linguagem abstrata, muito próxima ao gestual e às influências da arte Povera. 

Promessa no cenário atual das artes visuais, Aragoni descreve seu processo criativo a partir da coleta de objetos banais que encontra ao acaso: com esses objetos em mãos, o artista percebe esses itens como “corpos que podem vir a ser” (cortados, recortados, dobrados, entintados etc.) – essa é a ação de seu corpo sobre outros corpos, ou ainda, um acontecimento/performance no qual emerge a “arte”. No fim, a obra é o registro deste exercício sobre os corpos – o testemunho da experiência da arte. Nela, a intuição, o improviso e o subjetivo ganham do racional.

Ao espectador restam memórias: nos trabalhos expostos, em paredes brancas e de modo apartado, sente-se a reminiscência da autonomia da obra na qual o isolamento potencializa a experiência. O que de feição inversa se dá nas instalações que, longe de serem assépticas, trazem a contaminação do tempo contemporâneo. Já, nos expostos em conjunto (entre eles, o dípticos e trípticos) persiste uma narrativa solta construída por gestos densos e até mesmo violentos – em resumo, todos os trabalhos apontam para a entrega à experiência. 

 

Alecsandra Matias de Oliveira

Gustavo Aragoni: giving in to experience

"You can't create an experience. You have to go through it" Albert Camus

 

The last solid reference of modernity, the body is seen as the place of being, reason and conscience - it becomes the beacon for the formation of identity and, simultaneously, subjectivity. From this perspective, the rational being owns his thought and action. However, the body, as an instrument and support for the works of Gustavo Aragoni (Osasco, 1975), brings intuition, the unexpected and the concept of experience under the foundations of contemporary time.

Dedicated to research in contemporary philosophy, drawing and installation, Aragoni studies painting and drawing with Dudi Maia Rosa and illustration with Fernando Vilela, in 2013. In the following year, he attended the animation drawing course at the Centro Universitário Belas-Artes. Currently he participates in the monitoring group of Hermes Artes Visuais, under the guidance of artists Nino Cais and Carla Chaim. In this investigative pathway, the artist has followed directions originated by the figurative and supported by drawing. However, his latest creations include abstract language, close to gestures and the influences of Povera art. Promising in the current visual arts scene, Aragoni describes his creative process based on the collection of banal objects that he finds at random: with these objects in hand, the artist perceives these items as “bodies that can be” (cut, cropped, folded, inked etc.) - this is the action of his body on other bodies, or even, an event / performance in which the “art” emerges. In the end, the work itself is the record of this exercise upon bodies - the testimony of the experience of art. Within it, intuition, improvisation, and the subjective triumph over rationality. Memories are what remains to the viewer: in the works exhibited, on white walls and in a separate way, one feels the reminiscence of the work's autonomy in which isolation enhances the experience. The opposite of what happens in the installations that, far from being aseptic, bring the contamination of contemporary time. Whilst in the exposed together (among them, the diptychs, and triptychs) there remains a loose narrative built by dense and even violent gestures - in short, all the works point to the delivery to the experience.

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